quinta-feira, 15 de março de 2012

Sorvete, mãos dadas & torpedos

Um dos maiores dramas mexicanos dos relacionamentos amorosos, é que a gente parte do pressuposto que gostar tem parâmetros universais. Semana passada, me vi naquela situação básica de “amiga tamagoshi” de relacionamento alheio. Os dois são meus amigos e os dois vieram desabafar sobre os problemas comigo. (Péssima situação e não recomendo para ninguém). A amiga tamagoshi entra igual elefante branco no meio da problemática do casal e depois nem pode fazer aquela fofoca básica, porque os dois pedem que o papo fique em sigilo.

Pedir sigilo para mulher é o mesmo que pedir pra ela atravessar o oceano num barco de papel. Sim, honey, t-o-d-a-s são fofoqueiras. Apenas uns 2% mantém promessas de segredo.

Antes de prosseguir, necessito confessar que estou entre os 2%. Enfim. Vamos voltar para o “causo”. O fato é que, numa sexta-feira à noite, toca o meu telefone, atendo. Pronto, é a Marina.
 – “Amiiiiiiga! Caraca, to muito mal.. O Rodrigo ignorou todas as minhas mensagens. To achando ele super frio comigo, sabe? Distante. Como se nem gostasse de mim! Poxa, hoje a gente faz 1 mês de namoro. Pode parecer meio pré-primário, mas eu queria que ele fosse mais fofo. Me chamasse pra sei lá, tomar um sorvete e ir ao cinema. Mas não. Sabe pra onde ele me chama? Pra comer pizza com ele e o irmão de 7 anos e jogar vídeo-game. Super romântico, né? Ele é muito esquisito, acho que não gosta muito de mim não. Quando a gente anda, ele nem me dá a mão direito.”
Após um longo desabafo, toca novamente o meu telefone.... Não preciso dizer que era o Rodrigo, preciso?

- “E aí, blz? Ta podendo falar? Cara, a Marina tá estranha. Eu pergunto o que aconteceu, e ela insiste em dizer que não é nada. Pior que não consigo lembrar de nada errado que eu tenha feito! Pelo contrário, eu sou sempre tão atencioso com ela... Semana passada o avô dela ficou doente, fui direto pro hospital e fiquei lá dando maior apoio. Essa semana pensei nela todos os dias, mas estava tão puxado no trabalho e na faculdade, que mal tive tempo de respirar. E aí, para não deixar de vê-la, chamei ela pra comer pizza aqui em casa. Tava muito cansado, mas fiz esse esforço! Tá ligada que o Toninho se amarra nela, né? Ele ficou todo felizão mostrando os jogos novos de vídeo-game que ganhou...”

Imaginou a situacao? Ok. E o que temos em comum nelas? Concepções completamente diferentes do que seja “gostar” de alguém. A Marina valoriza demonstrações românticas de carinho, tipo sorvete, flor, mensagens de texto e cinema. E aí, ela concluiu como que em uma equação matemática: “Ele não me levou pra tomar sorvete, não respondeu mensagem e não me deu flor? Ele não me ama.” Mas peraí. O Rodrigo ODEIA celular e ODEIA responder mensagem de texto.  Segundo suas confissões, algumas mensagens da namorada, não eram passíveis de resposta, porque eram “retóricas.” (Sim, essa também foi novidade para mim, gata-garota beleza-marota).
A mensagem era algo do tipo: “Ai amor, minha aula ta um saco!!!!! E pra completar, minha escova molhou toda na chuva!” Nas palavras do meu amigo, ele “não tem criatividade para responder esse tipo de mensagem de desabafo”. Ele lê, pensa algumas coisas, mas não responde. Não por descaso, não porque ele não goste dela. Simplesmente por não saber o que responder.
Além do mais, ele já me confessou que sua muito nas mãos, por isso, sente vergonha de ficar de mãos dadas por muito tempo.

Para o Rodrigo, não é necessário ficar mandando torpedos bonitinhos para demonstrar o que sente. Basta pensar nela e mostrar que está ao seu lado em todos os momentos. Sejam eles bons (como uma pizza em família), sejam eles ruins (como a doenca do seu avô materno).

Ele achou que o clima “pizza & família” fosse ser um máximo. Enquanto isso, a Marina preferia cinema & sorvete. A Marina gosta de receber mensagens e declarações inesperadas, ela sonha com o dia que vai receber um buquê. Acho digno. Porém, o Rodrigo não sabe escrever o que sente, não nasceu com vocação para “Don Juan” e definitivamente detesta “nhem-nhem-nhem".

O Rodrigo sonha com o dia que a Marina vai ser mais “parceira” e fechar aquela trilha maneira que ele planejou pro meio de julho. Porra, como ela não acha cachoeira o ápice do romantismo?
Vai entender.....
Aqui é que os problemas começam. Cada um construiu para si, símbolos do que significa amar alguém.  Pode ter sido por conta dos filmes de cinema que marcaram, da vivência familiar, ou  mesmo da própria personalidade. O fato é que nem sempre os dois valorizam os mesmos gestos, agem da mesma maneira e demonstram o que sentem de formas idênticas.

É esse descompasso que faz a gente pensar: “Ele não gosta de mim. Que merda, vou atar fogo às vestes nesse mundo tão cruel" (Hahaha, só para não perder a piada). Mas será que não dá para reconhecer o jeito de amar de outra pessoa, só por que ele é muito diferente do seu? Ta aí um desafio (se não for o maior) para o progresso de qualquer relacao.

Portanto, relaxa na bica antes de chorar e protagonizar "Maria do Bairro" por aí. Deixe a Maria do Bairro para o Carlos_Daniel_Medina_Maia_da_Fonseca_Pereira_Passos. Novela mexicana é pros fracos. Pode comecar a dar risada da sua situacao. Não há necessidade de tanto drama. Nunca há.

Pense nisso.


10 comentários:

  1. Cara, como ás vezes a gente cria problemas que não existem, né?! Mas é assim mesmo, cada um sempre acha que seu jeito de amar é universal, que demonstrar carinho tem uma receita, tem que seguir um passo-a-passo. Nem sempre! Mas inicio de namoro é assim mesmo, a gente cria muita expectativa e tal, com o tempo vamos percebendo as formas que o outro demonstra seu amor, carinho e afeição. Claro que fazer as vontades do parceiro uma vez ou outra não mata ninguém. E em qualquer relação, para que dê certo, cada um deve ceder um pouco.

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    1. É isso, Mama. Cedendo daqui e dali, mas respeitando os jeitos individuais! Saudades. Bjs

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  2. Vc me inspira e me deixa mais leve. Não tem o q comentar! To viciada nisso! Sou sua fa

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  3. amiga, vc sempre teve dom pra escrever. alias, nao so pra isso! vc e dedicada em tudo que faz! tudo que toca! te amo e te admiro! tata

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  4. Nicole, vc traduz mto do q temos de melhor..e de pior tb!!!! Esse texto é surreal, vc, mais uma vez, acertou em cheio..
    Mtas vezes nem pensamos, temos como certo q o nosso jeito de demonstrar o sentimento é o correto e o universal!!!!Puro engano, a vida nos mostra q esse não é o melhor caminho a seguir!!!!

    Parabéns mais uma vez!!!!!

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  5. "Não há necessidade de tanto drama. Nunca há." - Ainda não aprendi isso! E, por mais que eu lembre disso às vezes... o drama é mais forte do que eu.

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    1. Entendo, Dani. E quem disse que eu não sou dramática? Maria do Bairro fica no chinelinho perto de mim... Mas estou fazendo um trabalho sério de conscientizacao, viu! Hj em dia, eu vejo que metade dos dramas podem ser evitados se a gente "olhar sob outro ângulo". Tudo pode sempre ficar mais leve, depende do olhar. Bjs

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